19 de outubro de 2010

chuva

Chovia faziam três dias. Sem parar. A água já alcançava seus joelhos. Mas ela continuava ali, imóvel, lendo seu livro. Não podia chover para sempre, não é? Uma hora ou outra ia passar. Mais um dia de chuva e agora ela precisava ficar de pé para respirar, o livro tinha virado um borrão de tinta e papel molhado, sumiu pela casa inundada. Ela podia tentar sair da casa e ir para um lugar mais seguro, mas isso era bobeira, logo a chuva parava! Mais um dia de chuva e ela tinha sido obrigada a subir no telhado. Estava no único metro quadrado que não havia sido tomado pela água. Finalmente, a água tomou tudo e ela foi obrigada a nadar. Batendo os pés a favor da correnteza, esperando chegar a algum lugar enquanto a chuva continuava a cair em seus olhos, um pensamento lhe ocorreu "Como eu deixei as coisas chegarem nesse ponto? Por que eu deixei as coisas chegarem nesse ponto!?". Ela se sentia boba e irresponsável com sua própria vida, como se não se importesse o suficiente consigo mesma. "De verdade, o que eu estava pensando? Não faz o menor sentido agora." Cada vez mais o cansaço tomava conta de seu corpo, os músculos contraíam ardidos, os pulmões pareciam frouxos. Ela procurava algum galho, alguma coisa (qualquer coisa!) para se agarrar e descansar um pouco pelo menos, mas não havia nada, nem ninguém em volta que pudesse ajudá-la. Não havia saída. Ela estava tão cansada que deixar-se afogar não lhe parecia uma idéia tão absurda. "Eu não queria desistir de mim mesma assim tão facilmente." Respirou profundamente para tomar o fôlego e engoliu água. Tossiu. "Já fiz isso uma vez e me coloquei nessa situação." Ela não conseguia pensar. Não conseguia sentir. Tudo ficou escuro.

(Aniella)

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